80 km, durante 4 dias, com 3 pernoites em acampamentos, até a cidade sagrada dos Incas.
Existem dezenas de formas de se chegar a Machu Picchu: de trem, de ônibus ou, se você tiver preparo físico, por alguma das trilhas. Quando ouvi falar da Salkantay, a mais difícil e longa de todas as trilhas, decidi que esse seria meu grande desafio.
O primeiro passo foi contratar uma agência e fiz isso ainda no Brasil. Fechei com a agência Brasil de Mochila (Marcelo – 67 3388-2359/9263-1278). O atendimento foi excelente e o preço bem justo. Chegando em Cusco entrei em contato com eles, que foram super atenciosos, me pegaram no hostel, entregaram o saco de dormir e dali me juntei ao grupo.
Você até pode fazer a trilha sozinho se for trekker experiente, mas com agência você não corre o risco de se perder, faz amizade com pessoas de todos os lugares do mundo, que estão na mesma vibe que você, conhece mais sobre a história e cultura do lugar (eu, como boa jornalista, enchia o guia Miguel – um fofo – de perguntas). O melhor é que no fim do dia, quando chega no acampamento, sua barraca tá montada e sua comida pronta! E mais, as mulas que acompanham o trajeto podem levar sua mochila com até 5 kg.
Nosso grupo tinha 15 pessoas, entre australianos, alemães, canadenses, americanos, franceses e ingleses. Eu era a única brasileira e tive sorte de todos serem pessoas fantásticas e muito companheiras.
Antes de optar por fazer essa trilha é importante saber:
- Você precisa estar aclimatado à altitude. No nosso grupo algumas pessoas passaram mal e tiveram que ser carregadas pelos cavalos;
- A trilha é puxada. Se você for sedentário, escolha outra forma de chegar a Machu Picchu;
- Leve somente o indispensável na mochila, qualquer grama a mais vai fazer diferença. Leve roupa de calor, de frio e de chuva. Você vai precisar de todas;
- Escolha uma boa bota de trekking, de preferência impermeável. E use antes de começar a trilha pra ter certeza que é confortável;
- Isotônicos, frutas secas, castanhas, carboidrato em gel serão de muita utilidade entre as refeições;
- Tem vários pontos na trilha pra comprar água, leve dinheiro extra pra isso;
O dia a dia do trekking
Dia 1 (20km)
Saímos de Cusco às 5h da manhã em direção a Mollepata, onde começa a caminhada. O 1º dia é duro porque encaramos uma longa subida logo no início, embaixo de sol quente. São 4 horas caminhando até a primeira parada para refeição, que é feita num abrigo improvisado. Na parte da tarde são mais 5 horas de caminhada até o primeiro acampamento em Soraypampa (3850m de altitude), onde a temperatura já é bastante fria. Nesse trecho já conseguimos avistar a montanha Salkantay, nosso grande incentivo, e dormimos aos seus pés.
Dia 2 (21km)
É o dia mais difícil porque sobe muito pra depois descer muito mais. Na parte da manhã encaramos 8km só de subida, de 3800m a 4600m de altitude, até o passo Salkantay, o ponto mais alto da trilha. Cada passo que você dá equivale ao esforço de cinco. Difícil, mas muito melhor do que esperava (eu esperava a morte). A vista de lá pro nevado Salkantay e pra lagoa aos seus pés é de arrepiar. Ficamos alguns minutos maravilhados com toda energia e majestade daquelas montanhas. Daí em diante foi só descida. Pra quem tem problemas no joelho, pense duas vezes antes de encarar essa trilha.
Parada pro almoço e mais descida, dessa vez embaixo de chuva, até o acampamento que ficava ao lado de um Rio gelado. Depois de um dia sem banho, colocamos os biquínis e enfrentamos a água de quase 0º. De lá direto pra ducha caliente, feliz da vida. Os gringos? Nem se preocuparam com isso!
Dia 3 (13km andando + 20km de van)
É um dia tranquilo, pois é quase todo plano ou em descida leve, numa região de mata fechada, muito verde e clima úmido que lembra muito o Brasil.
Depois de 6 horas caminhando, paramos pra almoçar numa cidadezinha que não lembro o nome e de lá pegamos uma van para Santa Teresa, onde dormimos.
Santa Teresa é uma cidade com mais estrutura e tem piscinas de águas termales, um verdadeiro oásis pra quem estava caminhando há três dias. No acampamento, como brasileiros sempre se encontram, conheci dois casais do sul e fizemos a festa regada a cerveja pra comemorar o (quase) fim do trekking.
Dia 4 (11km)
No 4º e último dia da trilha temos que carregar todo nosso peso. E aí você pode escolher entre caminhar mais 20km até Águas Calientes, descer um trecho de tirolesa ou pegar uma van até a hidrelétrica, e de lá caminhar pelos trilhos até Águas Calientes, que foi o que fizemos.
Chegar em Águas Calientes é êxtase. Depois de 80km, ver aquela cidadezinha toda iluminada e saber que nessa noite dormiríamos numa cama de verdade is just like heaven. Também aproveitei pra fazer uma massagem que, naquela altura, era a única coisa que eu precisava. A melhor massagem do mundo durante 1 hora, por 50 Soles. E depois, compras, muitas compras, no mercado de artesanato local.
Dia 5
O momento mais esperado da viagem. Madrugamos pra começar a subida a Machu Picchu no primeiro horário. Os portões abrem às 6h da manhã e, se você vai subir a pé, prepare-se pra enfrentar 45 minutos de escada. Sim, escada! Cansa pra cacete. Mas pra mim, Machu Picchu só teria seu real valor se eu começasse e terminasse essa viagem a pé.
Machu Picchu é um dos destinos mais desejados do mundo e recebe milhares de visitantes por dia, de mochileiros a senhores de 70 anos com uma forma física de dar inveja.
Diferente de outras cidades turísticas no mundo, a pergunta que mais se faz a quem já foi é: “O que você sentiu?”, e não simplesmente “o que você achou?”. Segundo a Unesco é “o legado tangível mais significativo da civilização inca”.
Pra percorrer todas as ruínas, visitar a ponte Inca, a Porta do Sol e subir uma das montanhas (Machu Picchu ou Huayna Picchu) leva um dia inteiro. É um sobe e desce danado e, dependendo da época do ano, faz muito calor. Então, mesmo que você vá da maneira mais confortável (de trem até Águas Calientes e de ônibus até as ruínas), prepare-se pra andar bastante por lá. Não se sinta na obrigação de subir uma das montanhas, porque caminhar pela cidade já vale o preço do ticket.
A sensação de chegar a Machu Picchu foi de superação, realização, força interior e gratidão por ter vivido momentos tão lindos durante esses 20 dias (conto sobre os vinte dias de mochilão por Peru e Bolívia nesse post aqui). Estar ali, depois de 5 dias nas montanhas, convivendo com pessoas dos quatro cantos do mundo, todos unidos num mesmo propósito, se apoiando a cada passo, me fez sentir a força e energia daquele povo. E ainda mais a minha energia.
O que levar na mochila pra trilha:
- Passaporte
- Capa de chuva
- Câmera com carregador extra
- Repelente, protetor solar e chapéu
- Lanterna
- Papel higiênico
- Lenços umidecidos
- Desodorante
- Protetor labial
- Sabonete, shampoo, condicionador
- Escova de cabelo
- Escova e pasta de dente
- Álcool gel
- Toalha mágica (que seca rápido)
- Roupas: 4 camisetas dry fit, 1 regata, 3 calças legging, 1 calça dry fit, 1 pijama, 1 fleece, 1 casaco impermeável, 3 tops, 5 meias, 5 calcinhas, 1 gorro, 1 par de luvas, 1 cachecol, 1 chinelo, Biquíni/sunga